Mudanças tecnológicas impactam as relações de trabalho nos portos
Adaptação do trabalho portuário à realidade atual foi um ponto destacado no painel
A relação de trabalho nos portos foi um dos temas do III Congresso Nacional e I Internacional da Magistratura do Trabalho neste dia 29, no Hotel Bourbon, em Foz do Iguaçu.
O assunto foi debatido no painel “As relações de Trabalho e a Qualificação de Mão de Obra no Setor Portuário”, mediado pela Jacqueline Wendpap, relatora da Subcomissão 3 da CEPORTOS.
Participaram do painel o presidente da FENOP e Membro da ABDPM, Sergio Aquino, o Presidente da Federação Nacional dos Estivadores, José Adilson Pereira, o Professor Titular da Universitat de València, Dr. Fernando Fita Ortega e o Ministro do TST, Alexandre Luiz Ramos.
A mediadora, Jacqueline Wendpap ressalta que é preciso formar e qualificar o trabalhador e entender as transformações tecnológicas no setor. “Teremos mudanças necessárias para o processo de grande desenvolvimento e tecnologia no setor portuário”.
Sérgio Aquino destacou os avanços tecnológicos na área de portos, incluindo o trabalho de operadores com joystick, que contribui para reduzir acidentes. No Brasil, diz, esse tipo de operação está começando a ser usada.
Ele lembra que em várias regiões do mundo há terminais robotizados, exceto na América do Sul. No Brasil, há um incentivo para a automação das operações e os avanços tecnológicos aprofundaram a necessidade de resolver questões de trabalho.
Aquino ainda destacou que no Brasil as relações de trabalho estão reguladas pela CLT, que é completamente diferente da realidade atual. “Nós precisamos de relações trabalhistas mais equilibradas”, afirma.
Para ele, a negociação não deve ser impositiva. Aquino também ressalta que a FENOP entende que as atuações nas relações capital-trabalho devem envolver somente os atores sociais, sem interferência do estado.
O presidente da Federação Nacional dos Estivadores, José Adilson Pereira, diz que é preciso buscar entendimento, defender a legislação e ter visão de futuro.
Para ele, a proposta de projeto de lei entregue ao presidente da Câmara dos Deputados pela comissão de juristas do trabalho portuário propõe a ruptura do sistema. “Há uma precarização da mão de obra”.
Com 40 anos de trabalho portuário, Pereira diz que é preciso fazer a mesa de negociação andar.
O professor Fernando Ortega falou sobre a regulação do trabalho portuário na União Europeia, destacando efeitos e riscos para os trabalhadores.
Ele chamou atenção para mudanças na legislação espanhola a partir de 2014 e adaptações realizadas em anos posteriores, a exemplo de 2017, quando foi proposta norma para mudar o panorama com contratações livres.
Os efeitos e impactos da legislação no setor portuário, explica, foi muito negativo incentivando greves. Isso ocorreu porque foi fomentada a manutenção do registro portuário para garantir o controle da contratação de pessoal e salários. “Consideravam que produziam uma perda de direitos e deveres nas negociações de trabalho”, salienta.
Em 2022, Ortega diz que foi feito o quinto acordo estabelecendo regras para distribuição de trabalho, controle de contratação e formação controlada por comitês portuários de emprego.
No encerramento do painel, o Ministro Alexandre Luiz Ramos defendeu a necessidade de adaptação do trabalho portuário para a realidade atual que se insere em um ambiente logístico ampliado.
Para ele, a CEPORTOS realizou um trabalho intenso e foram feitas escutas ativas e qualificadas. Em audiências realizadas, os trabalhadores exigiram e foram ouvidos.
“A discussão está posta e a legislação não pode virar as costas para a realidade”.
O ministro ainda disse que a restrição de contratação pelo sistema OGMO dobra as armas na negociação coletiva especialmente dos trabalhadores avulsos.
O Congresso é uma iniciativa da Associação Brasileira dos Magistrados do Trabalho (ABMT) em parceria com a Academia Brasileira de Formação e Pesquisa (ABFP).
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